O Rastreio de Câncer de Próstata Mudou — E Você Precisa Saber Disso
A velha ideia de que todo homem precisa fazer PSA e toque retal todo ano? Ela caiu. E caiu bem. O que a ciência mais atual nos diz é que rastreio universal e indiscriminado pode fazer mais mal do que bem.
Vamos conversar sobre o que realmente importa hoje.
O PSA não é mais o super-herói que parecia ser
Lá nos anos 90, o PSA (antígeno prostático específico) foi introduzido como uma esperança: encontrar câncer cedo, salvar vidas. Mas décadas de estudos mostraram uma realidade incômoda: rastrear todo mundo, todo ano, detecta muitos cânceres que nunca matariam.
A maioria dos cânceres de próstata é de crescimento lento. Muitos homens morrem com câncer de próstata, não por causa dele. O problema? O rastreio em massa leva a biópsias, cirurgias e tratamentos que podem causar incontinência urinária e disfunção erétil — em homens que poderiam viver tranquilamente sem nunca saber que tinham um tumor indolente.
O que recomendam as diretrizes atuais?
As principais sociedades médicas convergem para uma abordagem chamada decisão compartilhada. Traduzindo:
- Conversar sobre riscos e benefícios com homens entre 50 e 69 anos (ou a partir dos 45, se houver histórico familiar ou ancestralidade africana).
- Individualizar a periodicidade: se o PSA está baixo e estável, intervalos de 2 a 4 anos podem ser suficientes.
- Evitar rastreio após os 70 anos, especialmente se a expectativa de vida é menor que 10 anos — porque os danos superam os benefícios.
E o toque retal? Vamos desmistificar
O famoso toque virou sinônimo de constrangimento e piada de boteco. Mas vamos aos fatos:
O toque retal detecta tumores palpáveis — geralmente os mais agressivos, que podem não elevar tanto o PSA. Ele complementa o PSA, não o substitui.
A verdade: o exame leva menos de 10 segundos, é indolor quando bem feito e pode identificar alterações importantes.
Desmistificando: não, você não vai “perder a masculinidade”. E sim, cuidar da saúde é coisa de homem inteligente.
E as mulheres trans?
Sim, mulheres trans que não fizeram cirurgia completa mantêm a próstata — e ela pode desenvolver câncer, embora o risco seja menor pela terapia hormonal.
Como rastrear? O mesmo princípio: decisão compartilhada a partir dos 50 anos (ou 45, se houver risco). O PSA pode estar mais baixo devido aos hormônios, então os valores precisam ser interpretados com cuidado. E o mais importante: criar espaços seguros e respeitosos no acompanhamento.
A cultura do “homem não se cuida”
Homens adiam consultas, ignoram sintomas e só procuram ajuda quando está grave. Isso não é “ser forte” — é vulnerabilidade disfarçada.
Estudos mostram que homens têm 24% menos probabilidade de procurar um médico regularmente. Resultado? Diagnósticos tardios, tratamentos mais agressivos, mortalidade evitável.
A boa notícia? Essa cultura está mudando. Cuidar da saúde não é fraqueza — é responsabilidade.
5 Dicas Práticas de Cuidado
1. Converse com seu médico aos 50 (ou 45, se houver risco)
Entenda os riscos e benefícios do rastreio para você.
2. Mantenha peso saudável e pratique atividade física
Obesidade aumenta o risco de câncer agressivo. Exercício protege.
3. Coma bem: menos carne vermelha, mais vegetais
Tomate, peixes e vegetais estão associados a menor risco.
4. Fique atento aos sintomas urinários — mas sem pânico
Jato fraco ou levantar à noite para urinar? Pode ser benigno, mas merece avaliação.
5. Quebre o tabu: fale sobre saúde com outros homens
A mudança cultural começa em cada conversa.
O Fecho
Rastreio de câncer de próstata não é “fazer PSA e toque todo ano até morrer”. É decisão informada, baseada em evidências, centrada na pessoa.
Cuidar da saúde não é opcional. É inteligente.
Informação de qualidade transforma cuidado — e cuidado transforma vidas.
Dr. Fernando Henrique Rocha Fontoura
CRM-MS 9599 | RQE 8822 (Medicina de Família e Comunidade)
Médico pela UNIRIO | Especialista em Medicina de Família e Comunidade
Pós-Graduação em Cardiologia – Hospital Albert Einstein/SP
Membro Titular SBCM | Membro Aspirante SBC
Clínica do Pantanal
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